Simone Dragone
Característica de crise é a perda de controle, e sua reversão, por consequência, passa necessariamente pela retomada de controle. Por isso a liderança empresarial é fator decisivo para um projeto de turnaround eficaz. A habilidade da liderança é um fator divisório entre casos de sucessos e naufrágios de gestão durante uma crise.
No ambiente empresarial observamos a perda de controle de gestão, financeiro, comercial, controladoria e operacional, individual ou, mais comum, coletivamente. Essa perda generalizada do controle da organização é o que gera uma situação de escassez de recursos (financeiros, humanos e/ou tecnológicos) de difícil compreensão por parte dos envolvidos e por isso, de difícil reversão.
Assim como dirigir um veículo é algo natural, mas retomar o controle após um evento anormal pode ser muito complicado e traumático, também nas empresas a analogia se aplica. Entenda melhor sobre o assunto no post abaixo.
Como a liderança empresarial pode auxiliar a sair da crise?
São muitas as variáveis objetivas que precisam ser administradas para a reversão de uma crise empresarial, todas de forma sincronizada e com qualidade técnica:
- financeiras: a necessidade de recursos que permitam a continuidade da operação, de retomar o controle dos dispêndios e centralizar as decisões de caixa;
- comercial: é preciso reorganizar a atuação da empresa no mercado, com revisão de mix de produtos, de áreas de atuação, margens e preços, negociações, avaliação de clientes e abertura de mercados;
- operacional: revisar os processos produtivos e logísticos para otimizar os recursos e eventualmente corrigir desvios e perdas;
- tecnologia: utilizar sistemas que permitam melhorar a disponibilidade das informações, a reengenharia de produtos ou serviços, os investimentos em soluções que possam reduzir custos e melhorar a atuação da empresa.
Provavelmente os gestores conseguem perceber essas necessidades e intuir os caminhos que deveriam seguir, mas a força da crise impede a ação. Desse modo, ele fica inertes, assombrados pelo medo de piorar o cenário com decisões precipitadas ou equivocadas, e ainda pela falta de recursos para investimentos e mudanças. Por fim, essa passividade é que agrava a situação.
Somente com o apoio de uma forte liderança empresarial, impactante, é possível trilhar o caminho para a efetiva reversão do quadro de crise.
Esse fenômeno foi explicado por Newton, em sua 1ª lei – a lei da inércia – onde afirma que “todo corpo parado tende a continuar parado para sempre, a menos que alguma força (ou algumas forças) faça-o (façam-no) entrar em movimento”.
Os vários estudos existentes sobre liderança a classificam de diferentes formas, mas todos concordam que liderar é a capacidade de influenciar o outro, independente da classificação adotada para descrever os diversos estilos de liderança observados. É a força necessária para fazer o processo de mudança avançar. Quanto maior a força, maior a velocidade da mudança.
Por que a mudança é primordial nesse processo?
O gestor de turnaround – o gestor da crise – deve possuir uma alta habilidade em influenciar pessoas, pois superar uma crise se baseia, principalmente, em conseguir resultados diferentes dos apresentados pela operação, com escassez de recursos.
Só é possível resultados diferentes com formas distintas de realizar a operação, logo, reversão de crise implica em fortes transformações e rápidas, pois a empresa já não tem mais recursos para investir em uma gestão gradual para atender a um plano futuro. A situação requer providências ágeis para cessar as perdas e reverter a operação deficitária em superavitária.
Apesar da mudança ser inerente à condição humana, é também conhecida a angústia que ela causa, pelo medo do desconhecido. Será que fazendo diferente dará certo? Será que posso me adaptar a essa nova situação? O que pode dar errado?
Sem um incentivo ou influência as pessoas tendem a não empreender a transformação, por medo ou comodismo, ou talvez em função da entropia — lei da física que diz que tudo no universo tende ao caos.
Nos casos de turnaround é verificado que a resistência a alterações é uma das principais barreiras ao efetivo resultado positivo do processo. A resistência as mudanças causam perda de tempo, de energia, de dinheiro e desmotiva aqueles que estão comprometidos com o objetivo maior — a superação da crise.
O maior problema acontece quando a alta direção, geralmente, composta pelo sócio ou principal acionista, demonstra dificuldade em aceitar a necessidade da transição. Impactando de forma mais incisiva na tomada de decisões e voltando o mastro para o rumo da crise.
Nesse sentido, o consultor ou gestor de turnaround conta apenas com sua capacidade de influência para evitar essa situação. Mesmo os consultores mais experientes e com forte apelo técnico e habilidade de comunicação têm alto índice de insucesso quando isso ocorre.
Por exemplo, se explica ao caso de um presidente de empresa de médio porte, que mantem um diretor comercial no cargo a mais de três anos, acumulando no período uma perda de faturamento de mais de 40%, perda da margem de contribuição das vendas em mais de 15%, perda de importantes clientes, desconstrução de equipe, de rotinas e regras positivas e ausência total de técnica de gestão comercial.
Essa situação acontece simplesmente devido a angústia do desconhecido, ou seja, a resistência a mudanças, o que piora o quadro. Uma vez que o gestor da empresa não tem mais capacidade de racionalizar a situação, desse modo, a transformação oferece mais probabilidade de trazer benefícios que pioras.
Por outro lado, a liderança do gestor de crise é fundamental para salvar o negócio. Um exemplo, o cenário de uma empresa com muito estresse financeiro em que a única ferramenta que permitiria a continuidade da operação era um processo de Recuperação Judicial. Porém, o proprietário, levado por questões pessoais, havia decidido de forma bastante contumaz que sob nenhuma hipótese aceitaria tal procedimento.
Logo, a capacidade de influência do gestor nesse caso é fundamental para que o processo fosse conduzido, dentro do limite de prazo necessário, evitando a descontinuidade da operação.
Portanto, é verdade que a vida tende ao caos, e não requer quase energia para isso. Uma empresa em crise tende a somente piorar seu grau, sem ou quase nenhum esforço. A tendência para baixo não dispende energia, é natural.
Lutar contra isso requer força contrária, mas é do caos que surge a ordem, segundo a física. São forças opostas que se completam. Assim, ter uma liderança empresarial é a energia para reverter a tendência ruim na gestão de crises nos negócios.
Desse modo, vale lembrar que ter uma liderança efetiva não garante o sucesso absoluto de uma empresa. É preciso trabalhar em conjunto com a estratégia de negócios para alcançar as metas e objetivos propostos.
Se você está com dificuldades de transformar sua empresa entre em contato com a Vero Via Assessoria Empresarial que daremos a melhor direção para que isso ocorra.